quarta-feira, 16 de novembro de 2016

uma cidade sem memória


Bom, não sei por onde começar os meus escritos. Mas começo dizendo a imensa tristeza com relação a notícia que tive hoje. Soube, que ontem demoliram mais um pouquinho da minha cidade, causando assim um rombo no meu coração e esperança.

Não é novidade para ninguém que a cidade de Fortaleza não preserva seu patrimônio histórico, as grandes empresas imobiliárias, pessoas que não conhecem a importância de patrimônio e muitas razões acabam vencendo todas as frágeis leis que tramitam nos códigos e normas de Fortaleza. Essa não foi a primeira e infelizmente não será a última vez que uma atrocidade acontece com nosso patrimônio. A descaracterização da cidade faz com que os moradores percam sua identificação com o local, percam sua própria identidade. Traz uma desvalorização da cidade pela população, atraindo vandalismo pois quebram o vínculo histórico.

As ruínas que vocês estão vendo na foto são (eram) de uma antiga Fábrica de Redes (Tecidos de Algodão no geral) no bairro Jacarecanga, em Fortaleza. Para quem não sabe, o estado do Ceará tem sua história marcada pela produção de algodão. O Ceará teve sua economia crescente no período pós-Guerra de Secessão (aquela guerra civil nos Estados Unidos) e a produção do algodão foi um dos principais fatores de desenvolvimento do estado e da indústria têxtil.

As ruínas da Fábrica São José, posteriormente chamada de Fábrica Philomeno Gomes sobreviveram depois da demolição do corpo da fábrica durante alguns anos, porém, essa semana demoliram o restinho de história que essas ruínas guardavam.

Durante o tempo que passou em desuso um lindo jardim com vegetação local tomou das ruínas da Fábrica, formando um espaço muito bonito. Esse espaço foi o local do meu projeto de graduação em Arquitetura e Urbanismo, assim como deve ter sido de algumas pessoas também. Havia inúmeras formas de preservar esse restinho de memória, de cultura, da nossa história independente de qual uso passasse a ter o novo equipamento a ser construído, porém preferiram demolir.

Fica aqui a minha breve homenagem em fotos para aqueles que lutam pela preservação de sua história.













7 comentários:

  1. Muito bonitas as fotos e a homenagem, Horty. Mas complexifico algumas questões levantadas por você.

    Afinal, seriam pessoas "sem cultura que acabam vencendo todas as frágeis leis que tramitam nos códigos e normas de Fortaleza" as responsáveis por ações desse tipo? Será mesmo? Será que dentro das próprias leis e códigos não existem artigos e mecanismos que permitam e tornem legal ações desse tipo? (Afinal de contas o bem não era tombado, apesar de significativo valor histórico.) Será que as pessoas que derrubam esse prédios históricos para introduzir "o progresso e a modernidade" não são plenamente cientes do peso histórico, porém ignoram isso em prol de rentabilidade nos negócios e acordos entre empresas multi e mesmo transnacionais? (Afinal, o lucro sempre fala mais alto.)

    É interessante situar ações desse tipo no contexto econômico e político. Afinal, por que essas empresas preferem derrubar tudo em vez de reformar os edifícios antigos, convertendo para outros usos? Desde a década de 90, e principalmente a partir do século XXI, que haverá um maior imbricamento entre a construção civil e o mercado financeiro. As empresas imobiliárias locais passam a fazer parcerias com empresas nacionais, desenvolvendo produtos cada vez mais "globalizados" e que facilitem sua inserção e aceitação na economia financeira mundial. Para facilitar essa promiscuidade, é necessário desenvolver produtos padronizados e que sigam formas e orientações aplicadas genericamente e amplamente pelas empresas de todo o mundo. Quanto mais o edifício seguir esse "modelo internacional", melhor será de inseri-lo no mercado financeiro global. Assim, as construtoras (visando uma maior liquidez de seus patrimônios) recorrerão a esse recurso, preferindo a construção de novos "caixotes modernistas" a requalificações de antigos edifícios, com rebatimentos diretos no espaço urbano e na sua lógica de reprodução.

    Como quem determina os critérios para a produção do espaço de nossas cidades são as grandes incorporadoras, com o importantíssimo auxílio do Estado (e aí é importante avaliar criticamente o papel da prefeitura, sob a gestão atual de Roberto Cláudio), acabamos refém e telespectadores dessas mudanças, como bem retratou o filme Aquarius. (Por sinal, já assistiu? Recomendo fortemente!)

    Enquanto a lógica de produção de nossas cidades seguir os parâmetros e mecanismos internacionais do capitalismo sob o amparo de um Estado Patrimonialista, continuaremos refém de ações desse tipo. Para (tentarmos) fugir desse trágico destino, somente a luta é capaz.

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    1. Só me corrigindo aqui. Na verdade, eu ainda não entendo muito bem desses processos. Não sei quem são exatamente os atores envolvidos, como ocorrem essas parcerias, quais são os interesses e como definem os critérios/parâmetros para a definição do produto a ser construído e comercializado no mercado imobiliário, entre outras coisas. Tudo isso é muito complexo e eu não tive a oportunidade ainda de realizar um estudo mais aprofundado sobre o assunto. Só sei que as causas são complexas e difusas, porém os efeitos e consequências são essencialmente locais.

      Só fazendo esse adendo para não parecer que eu "super" entendo do assunto e estou 100% segura em tudo aquilo que falei em meu comentário anterior. É bom deixar isso claro. Heheheh

      Obs.: Ah! E na verdade, todo mundo tem cultura. O conceito de cultura não se limita a conhecimento histórico ou coisa do tipo. :P

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    2. Obrigada por me corrigir com relação o termo "cultura". Falei no sentido de ter informação sobre sua própria história.

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  2. Eu tinha escrito um mundão de coisa e esse blog apagou do NADA!
    Mas resumindo....
    Eu concordo com você, obrigada por trazer sempre novas questões importantíssimas.
    Também acredito que se a informação chegasse em mais pessoas elas poderiam endentar o quanto estão perdendo em história e patrimônio, acho que isso intensificaria a luta e dificultaria ações como essa. A falta da simples informação faz uma grande diferença.
    Concordo também que o modelo modernista já vem de arrastando faz muuuuuuuito tempo e talvez ainda seja o mais "aceitado" economicamente (não sei bem se ainda é). Mas o novo urbanismo deve prezar pela variedade e multiplicidade de pessoas, formas urbanas, culturas, arquiteturas. Que podem e devem conviver juntas.

    Tamo junta nessa luta, minha amiga. Beijo.

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  3. Sim, sim! Essa discussão "dá muito pano para manga". Depois a gente se encontra e discute melhor sobre tudo isso juntas.

    Enquanto isso, vamos fazendo o que é possível para mudar essa realidade e propôr um modo novo de pensar, produzir e vivenciar as cidades.

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  4. Gostei da sua homenagem em fotos! Queria conhecer mais da Fortaleza/Ceará, para manter viva a nossa história.

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    1. Obrigada! Eu também queria conhecer mais... Temos que dá mais valor a nossa cidade, né? Um beijo

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